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IPO da C&A: não vale a pena investir, avaliam Levante e Suno

Reserva das ações da rede varejista de moda começou nesta segunda, mas analistas recomendam ficar fora da operação: veja argumentos

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Estagnação da expansão e destinação dos recursos são motivos para não participar da abertura de capital da C&A–Foto: Reprodução

A reserva para a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da C&A, rede varejista de moda, começou nesta segunda-feira (14) e vai até o dia 23. Trata-se da quarta empresa neste ano que estreia na Bolsa brasileira, a B3, depois da Neoenergia (NEOE3), da Centauro (CNTO3) e da “badalada” Vivara (VIVA3).

Será que vale a pena participar da operação? Até ao momento, duas casas de análises, a Levante Investimentos e a Suno Research recomendam não aderir à oferta da rede de moda. Entenda os motivos apontados pelos analistas e detalhes do IPO da rival da Renner.

Como será o IPO

A oferta da C&A será em sua totalidade de ações preferenciais, com a adesão ao Novo Mercado da B3, o mais alto nível de governança da bolsa brasileira. As ações serão negociadas, a partir do dia 28, com o ticker CEAB3. O preço final é definido no dia 24.

O valor mínimo para participar da oferta é de R$ 3.000 e o máximo é de R$ 1 milhão por investidor não-institucional.

O IPO é composto por uma oferta primária de 49.315.068 ações somada a uma oferta secundária de 32.876.720 ações. A primeira corresponde à emissão de novos papéis, enquanto a segunda se refere à venda de ativos nas mãos dos controladores. Se houver interesse do mercado, a oferta poderá ser acrescida em até 20% (ações adicionais) e 15% (lote suplementar), alcançando 110.958.914 ações.

A família Brenninkmeijer, dos irmãos Clemens e August, cujas iniciais deram origem ao nome da varejista na Holanda, em 1861, será a acionista vendedora na oferta secundária.

A faixa indicativa de preço ficou entre R$ 16,50 e R$ 20, mas o valor final pode ficar acima ou abaixo desses valores. Considerando o preço médio, que é de R$ 18,25 por ação, o valor total da oferta será de R$ 1,5 bilhão.

Não haverá “lock-up” (período em que fica vetada a venda das ações) para o varejo aliado à preferência de distribuição.

Os bancos coordenadores da oferta são: Morgan Stanley, Bradesco BBI, BTG Pactual, Santander, Citi e XP Investimentos.

Números da empresa

A C&A, que chegou ao Brasil em 1976, tem 282 lojas físicas, 236 delas em shopping centers consolidados, com as outras localizadas em ruas estratégicas. São 155 no Sudeste e 64 lojas físicas na região Nordeste.

Sua primeira loja foi inaugurada no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Aqui, o grupo é dono de marcas como: Ângelo Litrico, Sun Coast, PaloMino, Yéssica, Clock House, Ace e Jinglers.

É a segunda marca de loja de roupas mais reconhecida (Top of Mind) no Brasil.

Ela é a segunda maior varejista de moda do Brasil, perdendo apenas para a Renner em termos de faturamento. Em 2018, a companhia teve receita líquida de R$ 5,17 bilhões, um aumento de 2,6% em relação ao ano anterior. Já o lucro líquido somou R$ 173,6 milhões, um salto de 79,2% sobre 2017. No primeiro semestre deste ano, conseguiu reverter prejuízo de R$ 30,5 milhões, registrado no mesmo período em 2018, para lucro de R$ 777,2 milhões.

No primeiro semestre, a companhia reportou avanço de 3% na receita, para R$ 2,3 bilhões.

As operações das lojas físicas são apoiadas por quatro centros de distribuição – dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro em Santa Catarina.

A loja online foi inaugurada em 2014, alcançando números de vendas que ultrapassam mais de 1 milhão de itens. Ela também possui um centro de distribuição adicional em São Paulo.

Argumentos para não participar do IPO da C&A:

1. Mau uso dos recursos

Para Eduardo Guimarães, analista de ações da Levante Investimentos, um dos motivos para o investidor ficar fora da oferta da C&A é que a empresa vai utilizar a maior parte dos recursos (90%) levantados no IPO para pagamento de dívidas da empresa com seus acionistas. Apenas 10% será para expansão orgânica da rede de lojas. A companhia pretende abrir 10 lojas em 2019, 20 em 2020 e 25 a partir de 2021. No total, a meta é inaugurar 159 novos estabelecimentos, segundo o prospecto da operação de abertura de capital.

Ou seja, dos esperados R$ 861,3 milhões com a oferta primária (dinheiro para os cofres da empresa), 90%, ou R$ 775,2 milhões, serão destinados a saldar dívida com a C&A Mode AG. Apenas 10%, ou os R$ 86,1 milhões, será utilizado na expansão da marca no Brasil.

Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, também recomenda não entrar na operação pela destinação do dinheiro captado. A C&A possui um“sério conflito de interesse com o controlador, porque aproximadamente metade da emissão é para pagar intercompany loan (empréstimos entre as empresas)”. “A empresa está chamando os investidores para apagar fogo”, diz Wainberg.

2. Empresa “envelhecida”

Para Wainberg, a marca está “envelhecida”, e seu controlador é uma família holandesa que não conhece muito bem o varejo brasileiro.

“A marca C&A está envelhecida, o número de lojas permanece o mesmo em três anos, e o Same Store Salle (SSS) no primeiro semestre de 2019 está abaixo da inflação. A que ponto a companhia entende o seu público alvo?”, completou o analista. Same Store Salle (SSS, sigla em inglês) é um indicador de empresas no setor de comércio.

Guimarães também destaca o baixo crescimento do número de lojas como destaque negativo. “Em 2010, a C&A era maior do que a Renner e a Riachuelo em quantidade de lojas. Porém, vem perdendo participação de mercado devido ao baixo crescimento em termos de aberturas de lojas e ao desempenho vendas mesmas lojas”, destaca o analista da Levante.

3. Endividamento alto e margens baixas

Segundo a Levante, a C&A possui um alto nível de endividamento, com dívida líquida de R$ 2,35 bilhões em junho de 2019. A relação dívida líquida/Ebitda era de 3,7 vezes.

Além disso, a empresa tem margem operacional menor do que as principais concorrentes: 14% em 2018, comparado à Renner (38%) e à Riacheulo/Guararapes (23%).

“Gostamos da exposição ao setor de varejo, devido à oportunidade de crescimento com a retomada da economia, mas acreditamos que existem empresas com uma melhor capacidade de execução, mais crescimento de lojas e com uma margem operacional mais alta”, contou Guimarães.

 4. Ação está cara

Os analistas também avaliaram os valores dos papéis–o intervalo foi definido entre R$ 16,50 e R$ 20 por ação– como elevados em relação a concorrentes como Riachuelo, cujas ações ordinárias da Guararapes, dona da rede, encerraram negociadas a R$ 20 no pregão desta terça-feira (15).

Se a ação ficar no preço médio do intervalo, que é de R$ 18,25, ele implica 20,1 vezes o lucro da companhia, múltiplo elevado se comparado a empresas do setor como a Renner (26,5x), que é referência de execução do setor, e a Guararapes (17x), que está mais avançada na expansão das lojas, segundo Guimarães.

“A C&A se depara com a estagnação no crescimento de lojas e ainda precisa se provar em termos de crescimento”, acrescentou.

5. Canal online

A Levante destaca que o canal eletrônico da rede representa 2,4% da receita líquida. A compra por meios eletrônicos com retirada na loja (click and colect) representa 20% do total das vendas online, parcela menor que as rivais: Renner (27%) e Guararapes (25%).

Para a casa de análise, a empresa deveria destinar uma parcela maior dos recursos para investimentos em canais eletrônicos e para reforma/abertura de lojas.

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