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Em dia de pânico global e ‘puxão de orelha’ de Trump, dólar fecha a R$ 4,04; Bolsa tomba 2,94%
Nas casas de câmbio, divisa chegou a R$ 4,25; dados ruins da China e Alemanha, além de um movimento atípico de juros nos EUA pesaram nesta quarta
O alívio trazido na véspera pela trégua na guerra comercial entre EUA e China só durou um pregão. Nesta quarta-feira (14), o dólar disparou 1,76%, fechando nos R$ 4,04, o valor mais elevado desde fim de maio e a alta diária mais intensa desde 27 de março. Entre as principais divisas do mundo, o real foi a segunda com maior desvalorização, só perdendo para o combalido peso argentino.
O dólar turismo, aquele que os turistas levam nas viagens, acompanhou a valorização e chegou a ser comercializado a R$ 4,25 nas casas de câmbio de São Paulo nesta quarta-feira.
De acordo com o site Melhor Câmbio, que tem cotações de 98 casas de câmbio em São Paulo, a moeda oscilou entre R$ 4,23 e R$ 4,25. No Rio, nos 68 estabelecimentos avaliados, a divisa variou de R$ 4,24 a R$ 4,25.
Esse valor é para o dólar em espécie. No cartão pré-pago, modalidade que paga o mesmo IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do cartão de crédito, de 6,38%, mas tem vantagem de permitir que o cliente trave a cotação da moeda no dia em que recarrega o cartão, o dólar turismo está ainda mais alto. Em São Paulo, entre R$ 4,44 e R$ 4,47; enquanto nas casas de câmbio do Rio, entre R$ 4,45 e R$ 4,51.
A Bolsa brasileira também reagiu ao mau humor global, tendo registrado a maior queda desde 27 de março. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, terminou nos 100.258 pontos, um tombo de 2,94%.
Recessão e “curva invertida”
Voltaram com força as preocupações com uma recessão econômica mundial, depois da divulgação de dados econômicos da China, da Alemanha e da Zona do Euro (veja abaixo).
O pânico aumentou com uma sinalização vinda do mercado de renda fixa dos EUA: a taxa dos papéis do Tesouro de dois anos ficou brevemente, nesta quarta, acima da taxa paga do título de dez anos, o tipo de “inversão de curva” que, quando persistente, precedeu recessões anteriores dos EUA. As últimas sete recessões foram precedidas desse movimento da curva.
É um sinal de que a economia, a longo prazo, vai crescer muito pouco, não exigindo aperto nos juros ou, até, indicando que poderá haver uma redução nas taxas.
Essa “inversão” levou o presidente Donald Trump a dar, novamente, um “puxão de orelha” ao Fed (banco central dos EUA), pedindo um corte de juros para estimular o crescimento do consumo e do crédito, evitando a recessão.
Segundo ele, o Fed é o culpado por essa “inversão” e pela turbulência recente dos mercados, e não a guerra comercial, que ele prometeu intensificar mês que vem. Pelo twitter, disse que o presidente do Fed era “um cara sem noção” e que, graças à lentidão da autoridade em cortar juros, outros países se beneficiaram das taxas baixas americanas.
“A aversão ao risco tomou conta dos mercados devido à ampliação do sentimento de recessão. O que ampliou muito esse sentimento foi a curva invertida de juros americanos: a taxa de dois anos está pagando mais do que a taxa de 10 anos, e isso é sempre um sinal de recessão. O Trump saiu batendo no Fed, pedindo juro mais baixo. Para ele, se a curva está invertida, é óbvio que o Fed está errado”, disse Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
Na véspera, o dólar havia tido um dia de trégua e chegou a R$ 3,967, depois que Trump anunciou o adiamento de tarifas de importação à China, de setembro para 15 de dezembro, sobre vários itens, incluindo eletrônicos e brinquedos, para não “estragar” o Natal dos americanos. O adiamento aconteceu após conversas telefônicas entre as autoridades comerciais entre os dois países, que se comprometeram a conversar novamente em duas semanas.
China e Alemanha: dados ruins
A China divulgou os números de produção industrial, vendas no varejo e investimento de julho da China, que ficaram mais uma vez abaixo das expectativas de mercado.
Segundo nota da Guide Investimentos, os dados chineses indicam “que as medidas adotadas pelo governo estão sendo insuficientes para promover uma estabilização da economia. Junto aos impasses internos e externos que o gigante asiático está enfrentando atualmente, a situação preocupa mais, uma vez que quanto mais se estenderem os problemas para a segunda maior economia mundial, mais o cenário para a economia global se deteriorará”, explica.
Os indicadores da Zona do Euro, em particular, da Alemanha também mostram a mesma tendência de arrefecimento das economias.
No segundo trimestre, a economia da Zona do Euro (grupo com 19 países europeus) desacelerou e cresceu apenas 0,2%. O maior destaque dentre os países membros foi justamente a Alemanha, que registrou uma contração de 0,1% no período e mostrou que a maior economia da região já pode estar entrando em recessão.
“De modo geral, os dados reforçaram a fraqueza da economia europeia, e assim como os números da China, contribuem para a manutenção do receio em torno de uma desaceleração econômica em escala global”, segundo a Guide.
Argentina
Na Argentina, o peso teve mais um dia de desvalorização, mesmo depois do presidente Mauricio Macri anunciar um pacote de medidas para aliviar a população prejudicada pela recessão e alta inflação do país. Macri tenta reverter a sua quase derrota nas eleições presidenciais de outubro, depois da sinalização nas prévias deste domingo (11), que mostraram que os argentinos querem a esquerda de volta ao poder.