Seu Bolso
Dólar vai a R$ 4,124 e fecha no maior nível em quase um ano, com Trump, China e Previdência
Temor de uma recessão global com as novas ameaças de Trump após a China retaliar os EUA e atraso na reforma derrubam humor e fazem mercado “esquecer” fala animadora de Powell nesta sexta
Do céu ao inferno. O dólar, que tinha tudo para abandonar a casa dos R$ 4 com o discurso favorável do presidente do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA), Jerome Powel, pela manhã, disparou 1,15%, fechando, nesta sexta-feira (23), nos R$ 4,124, o maior patamar desde 18 setembro de 2018. O recorde de fechamento anterior de 2019 era de R$ 4,0991, registrado no dia 17 de maio.
No pior momento do pregão, a moeda dos EUA subiu a R$ 4,133, ficando perto da maior cotação que a divisa já alcançou na história após o Plano Real: R$ 4,1957 em setembro de 2018.
Já o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, que havia suavizado as perdas após a fala de Powell, acentuou as baixas, e fechou com queda de 2,34% nos 97.667 pontos, abaixo da marca dos 100 mil pontos, a menor pontuação desde 6 de junho.
Os vilões da vez foram o presidente americano, Donald Trump, que subiu o tom contra a China, que decidiu nesta sexta responder às novas taxas aos produtos chineses que o chefe dos EUA anunciou no início do mês, e o atraso na votação da reforma da Previdência no Senado, na véspera.
“Se atrasa a reforma, a Bolsa cai e o dólar sobe. Se além disso, o Trump briga mais com a China, a Bolsa cai mais e o dólar sobe mais”, explicou o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, e colunista do Economia Bárbara.
Novos temores de uma recessão global motivados pelo agravamento da guerra comercial entre EUA e China motivaram o nervosismo geral, depois do anúncio de retaliação da China pela manhã e a resposta do presidente americano em seguida.
Trump avisou, pelo Twitter, que vai impor taxas além das já anunciadas, de 10% para US$ 300 bilhões em produtos chineses, a partir de setembro: “Eu estarei respondendo às tarifas da China nesta tarde. Esta é uma ótima oportunidade para os EUA”.
Também pediu para as empresas americanas saírem da China e encontrarem outros mercados além do chinês.
Tudo isto depois do Ministério do Comércio da China ter anunciado que serão impostas tarifas adicionais de 5% ou 10% sobre um total de 5.078 produtos com origem nos EUA, no valor total de US$ 75 bilhões. Estão incluídos produtos agrícolas, petróleo, aviões de pequeno porte e carros americanos. Tarifas sobre alguns produtos entrarão em vigor já em 1º de setembro, e sobre outros em 15 de dezembro.
Um agravamento da guerra comercial entre as duas potências tende a prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial, afetando as economias globais, sobretudo as já frágeis economias dos países emergentes, como o Brasil.
Os receios de atraso na tramitação da reforma da Previdência no Senado também preocupavam o mercado. Na véspera, o relator da reforma da Previdência na Casa, Tasso Jereissati (PSDB-CE), informou que não apresentaria seu parecer sobre a proposta nesta sexta-feira (23), como previsto, o que pode atrasar a tramitação em quatro ou cinco dias.
O mercado vê na reforma o início para a retomada do crescimento da economia, que seguiu fraca no primeiro semestre.
Powell abre a porta para corte nos juros
Com a guerra comercial e a Previdência no radar, o discurso de Powell acabou por não ter efeito positivo no câmbio nem na Bolsa nesta sexta. Pelas 11h, ele sinalizou estar mais preocupado com o crescimento da economia, o que deu um pouco de ânimo aos mercados. Entre as falas que animaram os investidores estão: “Inflação parece estar mais próxima da meta de 2%”; “Vimos mais evidências de uma desaceleração global”; e “A economia está em um lugar favorável, mas enfrenta riscos significativos”.
“Estamos observando cuidadosamente os desenvolvimentos, enquanto avaliamos as suas implicações para as perspectivas dos EUA e para a progressão da política monetária. “Vamos agir de forma apropriada para apoiar a expansão econômica“, resumiu.
Powell não deu, porém, pistas concretas se o banco central vai cortar os juros ou não em sua próxima reunião, em setembro. Mas os mercados interpretaram que o chefe do BC dos EUA estaria mais favorável a uma redução nas taxas. Cortes nos juros por lá tendem a atrair capital ao Brasil, pressionando menos a moeda dos EUA.