O dólar pode cair abaixo dos R$ 4 nos próximos dias, com a confirmação da aprovação da reforma da Previdência no Senado, a 16ª rodada de licitações de petróleo e a melhora da avaliação sobre o Brasil pela BCA Research, uma das mais importantes casas de estudos independente do mundo. Mas, por outro lado, a divisa pode disparar até R$ 4,50, caso as mudanças previdenciárias não tenham o aval do senadores, segundo avaliam analistas.
Nesta segunda-feira (30), a moeda americana segue em alta, nos R$ 4,16, com cautela com votação da reforma da Previdência, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e em primeiro turno no plenário do Senado, prevista para esta terça (1º), depois do adiamento inesperado da apreciação.
Seguem no radar dúvidas quanto ao eventual acordo comercial entre EUA e China, e sobre o processo de impeachment do presidente americano, Donald Trump. Na incerteza, o mercado corre para se proteger e compra dólar. Lá fora, o dólar segue forte contra as principais moedas do mundo.
Por aqui, o real também sofre com as perspectivas de novos cortes na taxa básica de juros brasileira. Nesta segunda-feira (30), o Boletim Focus, com projeções de cerca de cem economistas do mercado financeiro, mostrou que agora o mercado já vê a Selic em 4,75% ao ano no fim de 2019.
Como a redução dos juros brasileiros não deve ser seguida tão intensamente pelo Fed (Banco Central dos EUA), os investidores especulativos estão migrando seu capital para outros emergentes, como México e Turquia, que pagam juros maiores, diante das reduções previstas nos EUA e no Brasil. Com isso, o real fica mais fraco e o dólar mais forte.
Votação da reforma da Previdência: dia mais importante do ano
A melhora do real ante o dólar pode vir com a confirmação da aprovação da reforma da Previdência. Nesta terça, será já um primeiro teste. “Os investidores estão apreensivos e aguardando o dia mais importante do ano até agora”, avalia Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara.
Segundo Spyer, se a reforma não andar nesta terça no Senado, há risco da divisa disparar a R$ 4,50. “Se andar, o dólar pode vir abaixo de R$ 4 nesta semana”, avalia o diretor da Mirae Asset.
“A única coisa que estou realmente convicto é que nos R$ 4,17, ele (dólar) não fica”, acrescentou Syper.
O próximo dia mais importante será a votação em segundo turno no Senado da reforma no dia 10 de outubro, diz.
Os investidores estrangeiros continuam céticos quanto à aprovação da reforma previdenciária que vai gerar economia de, ao menos, R$ 870 bilhões em dez anos aos cofres públicos, incerteza agravada com os adiamentos e mudanças que chegaram a ser sugeridas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) na proposta que já passou na Câmara dos Deputados. Há receio de que a proposta possa ser desidratada e reduzir a economia prevista.
O mercado aguarda as medidas de controle das contas públicas para colocar dinheiro no país.
Leilões do petróleo: entrada de dinheiro
O diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, avalia que o real continua pressionado diante das previsões de cortes de juros no Brasil, das incertezas com a guerra comercial entre EUA e China, impeachment de Trump e da votação da reforma da Previdência no Senado.
“A nossa moeda segue em seu processo de depreciação e há riscos de romper a região de R$ 4,20 e buscar R$ 4,30”, avalia Faria Júnior, em relatório, divulgado nesta segunda-feira (30).
Mas, eventos que devem atrair capital, como a 16ª rodada de licitações de blocos de petróleo do pós-sal, prevista também para o dia 10 de outubro, podem baixar o dólar para menos de R$ 4.
“Caso as notícias de fluxo sejam de fato positivas nos próximos dias ou semanas (como o leilão do pré-sal para início de outubro), há chances de queda do dólar para a região próxima de R$ 4 ou menos”, diz o diretor da Wagner Investimentos.
A 16ª rodada tem 36 blocos em oferta, sendo 12 nas bacias de nova fronteira de Camamu-Almada, Pernambuco-Paraíba e Jacuípe, e 24 blocos em bacias de elevado potencial, mas em regiões ainda consideradas de fronteira exploratória do pré-sal.
BCA eleva recomendação para o Brasil e pode atrair capital
Outra iniciativa que pode ajudar a baratear o dólar é a elevação da recomendação para o Brasil de underweight (desempenho abaixo da média) para neutro pela BCA Research, na última sexta-feira (27). A mudança pode atrair capital ao Brasil e deixar o real mais valorizado, segundo Faria Júnior.
O upgrade na avaliação reflete as expectativas com a aprovação da reforma da Previdência e tributária, além da agenda de privatizações no governo Bolsonaro.