Impactado pelo agravamento da guerra comercial entre EUA e China e controle de capitais na Argentina,– em dia de baixa liquidez, devido ao feriado nos EUA–, o dólar atingiu, nesta segunda (2), um novo recorde do ano e se aproximou do maior patamar já alcançado na era do Real, que foi de R$ 4,1957, em 13 de setembro do ano passado.
No fechamento, a moeda americana subiu 1% para os R$ 4,184. Com a disparada, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo, em uma cesta com as 24 principais divisas de países emergentes, segundo dados da agência Bloomberg. Atrás ficaram o peso colombiano, o peso chileno e o peso mexicano. Na outra ponta, o peso argentino reagiu às medidas de controle de capitais anunciadas neste domingo (1º) e foi a divisa que teve maior valorização nesta segunda-feira (2).
“O dólar subiu devido à escalada da guerra comercial entre EUA e a China neste domingo. O baixo volume, por conta do feriado nos EUA, acentuou essa alta. Além disso, os estrangeiros ainda não acreditam que a reforma da Previdência vai passar, o que traz maior pressão sobre o dólar. O controle de capitais argentino também pesou. Agora, aumentaram as chances do Banco Central anunciar novos leilões de venda de dólares à vista”, disse Pablo Syper, diretor de operações da Mirae Asset e colunista do Economia Bárbara, logo após o fechamento do mercado.
Entretanto, o BC anunciou que vai vender, nesta terça-feira (3), até US$ 580 milhões em um leilão à vista em conjunto com uma operação de swap inverso (que corresponde à compra de dólares no futuro). Com a venda de dólares à vista, a autoridade visa aumentar a liquidez do mercado e, dessa forma, tentar conter a alta da divisa americana.
China sobe o tom na guerra comercial
Neste domingo (1º) passaram a valer as novas tarifas americanas, de 15%, sobre uma série de produtos chineses no domingo–incluindo relógios inteligentes e TVs de tela plana–, enquanto a China começou a cobrar novas tarifas, inesperadas, sobre o petróleo americano.
De acordo com a Bloomberg, China entrou com um processo contra os EUA junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) por causa das tarifas americanas, informou o Ministério chinês do Comércio nesta segunda, depois de ter tentado, em vão, um adiamento das taxas com os americanos.
Como, nesta segunda é feriado do Dia dos Trabalho nos EUA, os mercados americanos não reagiram às contra-medidas chinesas. Nesta terça, uma abertura mais negativa nos EUA pode impactar o dólar por aqui de novo, segundo Spyer.
Um agravamento da guerra comercial tende a enfraquecer as duas maiores economias do mundo e a impactar o resto do mundo, incluindo o Brasil, que é dependente da venda de commodities (matérias-primas), mais vulnerável a uma queda na demanda global.
A melhora dos dados da indústria chinesa, que ajudava a Bolsa pela manhã, foi esquecida no mercado de câmbio.
Para o diretor da Mirae, a pesquisa Datafolha, que revela um aumento da reprovação ao governo Bolsonaro, não impactou no humor do mercado.
Já o anúncio argentino, que ajudou o peso, acabou pressionando a divisa americana no Brasil. Segundo as novas regras, as pessoas físicas serão limitadas a comprar ou transferir para contas no exterior até US$ 10 mil por mês, enquanto que os exportadores terão de pedir permissão antes de comprar moeda estrangeira e metais preciosos.