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Com Previdência e EUA, dólar tem maior queda semanal em 8 meses; Ibovespa cai 2,40%
Tombo da moeda americana reflete o pânico coma desaceleração da economia americana, que elevou a convicção de que os juros por lá vão cair, o que atrairá mais capital ao país; o avanço da reforma previdenciária também ajudou a deixar a divisa em R$ 4,057
O dólar tombou forte nesta semana, em meio ao avanço da reforma da Previdência no Senado, ainda com alguns contratempos inesperados como a redução na economia fiscal e expectativas de atrasos na votação em segundo turno, e aos sinais mais evidentes de fraqueza da economia americana. No fechamento desta sexta (4), a moeda americana ficou nos R$ 4,057, uma queda de 0,80%, a cotação mais baixa desde 21 de agosto; na semana, o tombo foi de 2,39%, o maior desde a semana terminada em 1º de fevereiro (-2,91%).
Já o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, apesar da alta de 1,02% nesta sexta (4), para 102.551 pontos, fechou a semana com queda de 2,40%, diante dos receios do impacto da desaceleração dos EUA na demanda de commodities e devido aos ruídos ao redor da reforma da Previdência.
O real foi a moeda que mais caiu ante o dólar nesta sexta, mas a queda do dólar foi generalizada. Considerada uma cesta de 24 moedas de países emergentes, 19 delas ganharam força ante o dólar, segundo dados da Bloomberg.
O feriado chinês de uma semana, que começou nesta terça, esvaziou o noticiário sobre a guerra comercial entre EUA e China, que vinha mexendo diariamente com os mercados.
O destaque da semana foi mesmo o aumento das expectativas de que o Fed (banco central dos EUA) vai continuar cortando os juros na reunião deste mês, no dia 30, para evitar que a economia entre em recessão, depois que dados do setor de serviços mostraram que o segmento teve o crescimento mais lento em três anos e que a força para gerar empregos no país está mais fraca: segundo foi divulgado nesta sexta, foram criadas 136 mil vagas em setembro, contra as 150 mil esperadas e as 168 mil em agosto.
Apesar desses indicadores reforçarem o enfraquecimento da economia, outro dado, o de que a taxa de desemprego americana ficou em 3,5%, abaixo dos 3,7% esperados, no menor nível desde dezembro de 1969, veio sinalizar que a economia está mais para uma desaceleração forte do que propriamente uma recessão. Isso acalmou o mercado americano, por um lado–a Bolsa de Nova York fechou com alta de 1,42% nesta sexta– mas pode acabar estressando, por outro, pois indica que o Fed pode não ficar tão inclinado a cortes os juros ou a corte de um tão intenso.
Quanto menor a taxa por lá, mais chances de investidores trazerem recursos para mercados emergentes, como o Brasil, e para ativos mais arriscados, como a Bolsa. Com isso, dólar cai e o Ibovespa tenderá a subir.
O presidente do Fed, Jerome Powell, falou nesta sexta, mas não deu indicações concretas sobre a trajetória dos juros neste mês. Ele disse que, apesar de ainda apresentar riscos latentes, a economia americana situa-se “em um bom lugar”. A declaração, porém, não mexeu com o mercado.
Também foi a semana de indicadores fracos na Europa. O índice de atividade da indústria (PMI) da zona do euro recuou pelo oitavo mês seguido, de 47 pontos em agosto para 45,7 em setembro, para o menor nível em sete anos. Já o PMI industrial da Alemanha caiu para o menor nível em mais de dez anos, de 43,5 pontos em agosto para 41,7 em setembro. Valores abaixo de 50 pontos sugerem contração da atividade.
Reforma da Previdência: avanços e revés
Na agenda doméstica, a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno no Senado na terça à noite (1º) animou o mercado. Mas a derrubada pelos senadores de uma das medidas da reforma, que endurecia as regras para receber o abono salarial, e levou à redução em R$ 76,4 bilhões da economia esperada aos cofres públicos em dez anos, caiu mal. A falta de articulação do governo ficou evidente e pode comprometer outras reformas ou ainda acabar desidratando ainda mais a reforma da Previdência no segundo turno.
Leia também: Senado conclui votação da reforma da Previdência em 1º turno; governo cede para evitar novas derrotas
Além disso, senadores já avisaram que a votação em segundo turno vai atrasar em duas semanas, e não ocorrerá antes do dia 22. O atraso é creditado à ida de um grupo de 15 senadores para a canonização no Vaticano da irmã Dulce, no dia 13 de outubro.
Mas, de fato, o adiamento, está sendo uma forma de pressão para que o governo edite por meio de uma medida provisória, antes da votação, para definir a divisão dos recursos do leilão de petróleo excedente do pré-sal, a chamada cessão onerosa. Os senadores querem garantir para seus Estados 15% dos recursos, como ficou definido na PEC já aprovada no Senado, que está sendo questionada na Câmara, onde os deputados querem aumentar a fatia dos municípios, dos 15% para 20%.
Entretanto, o governo, devido à derrota no Senado, quer compensar o dinheiro perdido para a União, diminuindo a fatia dos governos e prefeituras na licitação de petróleo, que vai ocorrer no dia 6 de novembro. O ruído pode atrasar ainda mais a conclusão da aprovação da reforma e trazer mais instabilidade ao mercado.
Inflação, varejo e serviços
Na próxima semana, o mercado vai ficar atento à divulgação pelo IBGE da inflação oficial (IPCA) de setembro, que se vier fraca e diante do enfraquecimento do dólar, pode dar suporte a cortes mais acentuados na taxa básica de juros brasileira, a Selic, que está em 5,5% ao ano.
Também saem os resultados do varejo e do setor de serviços de agosto. Na agenda internacional, o destaque será a ata da mais recente reunião do Copom americano.