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Com piora da guerra comercial, dólar bate R$ 4,11 e Ibovespa despenca a 97 mil pontos
Temor de uma recessão global com as novas ameaças de Trump após a China retaliar os EUA faz mercado “esquecer” fala animadora de Powell nesta sexta e derruba humor
Não deu nem tempo para o mercado “celebrar” o discurso positivo do presidente do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, e o presidente americano, Donald Trump, jogou um “balde de água fria” sobre os ânimos gerais nesta sexta-feira (23), ao anunciar que vai contra-atacar a China, impondo mais taxas sobre os produtos chineses.
Com isso, o dólar, que havia passado a cair com a fala de Powell, agora sobe. Pelas 14h15, o valor do dólar estava nos R$ 4,116, com uma alta de 0,93%.
Já o Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, que havia suavizado as perdas após o discurso, acentuou as baixas, e caía 2,75% para 97.095 pontos, abaixo da marca dos 100 mil pontos em que já esteve nesta sexta pela manhã.
O motivo é o novo agravamento da guerra comercial entre EUA e China, depois da ameaça de retaliação da China pela manhã e a resposta do presidente americano em seguida. Ele avisou, pelo Twitter, que vai impor taxas além das já anunciadas, de 10% para US$ 300 bilhões em produtos chineses: “Eu estarei respondendo às tarifas da China nesta tarde. Esta é uma ótima oportunidade para os EUA”.
Também pediu para as empresas americanas saírem da China e encontrarem outros mercados além do chinês.
Tudo isto depois do Ministério do Comércio da China ter anunciado que serão impostas tarifas adicionais de 5% ou 10% sobre um total de 5.078 produtos com origem nos EUA, no valor total de US$ 75 bilhões. Estão incluídos produtos agrícolas, petróleo, aviões de pequeno porte e carros americanos. Tarifas sobre alguns produtos entrarão em vigor já em 1º de setembro, e sobre outros em 15 de dezembro.
Um agravamento da guerra comercial entre as duas potências tende a prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial, afetando as economias globais, sobretudo as já frágeis economias dos países emergentes, como o Brasil.
Powell: mais preocupado com crescimento da economia
No esperado discurso de Powell, ele sinalizou estar mais preocupado com o crescimento da economia, o que deu um pouco de ânimo aos mercados. Entre as falas que animaram os investidores estão: “Inflação parece estar mais próxima da meta de 2%”; “Vimos mais evidências de uma desaceleração global”; e “A economia está em um lugar favorável, mas enfrenta riscos significativos”.
“Estamos observando cuidadosamente os desenvolvimentos, enquanto avaliamos as suas implicações para as perspectivas dos EUA e para a progressão da política monetária. “Vamos agir de forma apropriada para apoiar a expansão econômica“, resumiu.
Powell não deu, porém, pistas concretas se o banco central vai cortar os juros ou não em sua próxima reunião, em setembro. Mas os mercados estão interpretando que o chefe do BC dos EUA estaria mais favorável a uma redução nas taxas. Cortes nos juros por lá tendem a atrair capital ao Brasil, pressionando menos a moeda dos EUA.