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China importa mais, e preço da carne sobe no Brasil e no mundo

Atingido em cheio pela peste suína africana, gigante asiático eleva em 31% as compras de porco e 19% de frango do Brasil, e consumidor brasileiro já sente a alta no bolso; na Argentina, por exemplo, muitas pessoas estão deixando de comer carne vermelha pelo custo mais alto

Bárbara Leite

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Devido à alta do preço de carne suína, chineses mudam hábitos e aumentam demanda por peito e sobrecoxa de frango–Foto: Reprodução

A China está comprando mais carne do mundo inteiro e os preços da carne de frango, suína e bovina estão subindo no Brasil e ao redor do planeta. O gigante asiático tenta suprir as perdas em sua oferta doméstica causada pela peste suína africana.

De acordo com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), as exportações brasileiras de carne suína cresceram, de janeiro a agosto deste ano, 31% em volume (133,5 mil toneladas) e 47% em receita (US$ 303,2 milhões). Já os embarques de frango para o país asiático aumentaram 19% (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) em volume (348,2 mil toneladas) e 34% em receita (US$ 730,5 milhões) no mesmo período, segundo a associação.

Com isso, o brasileiro já sentiu essa alta no bolso. O preço do peito e coxa de frango já subiu 16% no varejo, segundo a agência Dow Jones Newswires.

O custo para o consumidor aumenta no Brasil porque, se há um crescimento da demanda no exterior, que paga mais caro e busca uma maior quantidade do produto, a indústria brasileira vai preferir exportar, a vendê-lo no mercado interno. Com menos produtos à venda no Brasil, os preços ficam mais elevados.

Para atender ao mercado chinês e manter o mercado interno brasileiro abastecido, a brasileira BRF vai ampliar a sua capacidade de produção em 30%, disse à Dow Jones o vice-presidente Internacional da BRF, Patricio Rohner.

A BRF confirmou a informação e diz que o aumento de 30% “se dá por conta das novas habilitações, anunciadas no começo do mês pelo MAPA”.

A empresa teve duas das 25 novas plantas que foram liberadas neste mês para exportar carne para a China: uma de frango e outra de suíno, localizadas em Lucas do Rio Verde– Mato Grosso (SIF 3515). As plantas têm capacidade de abate diária de aproximadamente 300 mil aves e 5 mil suínos, respectivamente.

Com essas novas habilitações, a companhia totaliza 9 plantas autorizadas a exportar para a China, sendo 7 de aves e 2 de suínos.

Novas altas no frango à vista

Segundo Rohner, os consumidores brasileiros estão pagando mais caro por frango, e novos aumentos nos preços são possíveis. Contatada, a BRF diz que não faz previsão para a alta nos preços.

O Brasil exporta para a China principalmente pés, asas e pernas de frango, mas com o aumento do preço da carne suína, devido à disparada da peste suína africana que atingiu rebanhos por lá, os chineses estão mudando os hábitos e comendo mais sobrecoxa e peito de frango.

O preços de carne suína na China chegaram a subir 50%, e houve tentativas do governo local de racionamento ou de estimular a população a migrar para frango e outras carnes.

Relatório do Rabobank, divulgado nesta segunda-feira (23), diz que a indústria brasileira de carne de frango vive um cenário bastante positivo.

“Brasil, China e México são os únicos enfrentando cenário positivo de mercado para a carne de frango neste momento, enquanto União Europeia, EUA e África do Sul lidam com excesso de oferta do produto. No caso do Brasil, o reajuste na produção realizado pelos frigoríficos no último ano e a forte demanda externa pela carne de frango têm favorecido o setor”, segundo o Rabobank.

Aumentos de preços pelo mundo

Entre maio e julho, as importações chinesas de carnes suína, de frango, bovina e de ovelha subiram quase 70%, chegando a mais de US$ 5 bilhões em receita e aumentando os preços globais.

Segundo a Dow Jones, os preços de carne de cordeiro em lojas na Austrália aumentaram 14%, enquanto carne moída nas prateleiras da Nova Zelândia saem a preços recordes.

Na vizinha Argentina, onde muitos consideram a carne bovina um estilo de vida, alguns locais estão deixando de consumir a carne vermelha com o aumento de preços. A combinação de inflação e aumento das exportações à China – embarques de carne bovina mais do que dobraram neste ano, enquanto de frango aumentaram 68% – aumentaram preços da carne em 51% ante um ano atrás, de acordo com dados da indústria.

Na Espanha, até cortes mais baratos de carne estão ficando em falta no mercado local porque podem ser vendidas por mais na China, afirmou o diretor de Vendas Regionais para a Ásia da ElPozo, John Hickin.

Nos EUA, os consumidores locais ainda não sentiram efeito expressivo das compras chinesas em preços, mas isso pode mudar em breve. Cotações de futuros de suínos americanos subiram 4,5% neste mês após oficiais chineses afirmarem que o país poderia excluir carne suína e outros produtos agrícolas americanos de tarifas punitivas.

Peste suína africana se espalha; Coreia do Sul confirma novo caso

Maior rebanho de porco do mundo na China encolheu quase 40% com a epidemia de peste suína africana–Foto: Reprodução

A peste suína africana continua se espalhando pela Europa e pela Ásia, sobretudo na China. Nesta segunda-feira (23), a Coreia do Sul confirmou um novo caso de peste suína africana em uma cidade próxima à capital Seul, após reportar o primeiro surto do vírus mortal no país na semana passada, disse o Ministério da Agricultura local.

O novo surto ocorreu em uma criação de porcos na cidade de Gimpo, cerca de 14 km ao sul de Paju, onde o primeiro caso foi detectado.

Segundo dados de autoridades chinesas, a epidemia de peste suína africana reduziu o maior rebanho suíno do mundo em quase 40%.

A Ucrânia sacrificou 100 mil porcos após um surto de peste suína africana ter sido detectado em uma das maiores fazendas de suínos do país. Foi o pior registro até o momento havia levado à morte de 60 mil porcos em 2015, na região de Kiev.

A União Europeia (UE) também acendeu um alerta amarelo depois que a Bulgária e sua vizinha Romênia divulgaram casos da peste suína africana. Até julho, a Eslováquia também havia registrado a peste em quatro criações domésticas.

Além da Ucrânia e da UE, a Rússia relatou também que detectou novos casos de peste suína africana na região de Amur, perto de sua fronteira com a China, onde o surto vem comprometendo o rebanho de porcos local.

*Com Dow Jones



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