Economia
Onda de protestos no Chile contra aumento da tarifa de metrô deixa três mortos
Santiago vive dia de caos, com ônibus e lojas queimadas, transporte público paralisado e violência, em meio à escalada das manifestações estudantis contra a alta de 17 centavos na passagem, que foi suspensa neste sábado
Três pessoas morreram em um incêndio na madrugada deste domingo (20) durante os protestos violentos deflagrados nas ruas do Chile em decorrência do aumento na passagem do metrô, decretado há duas semanas. A capital Santiago vive dias de caos, com dezenas de lojas, supermercados, bancos e hotéis saqueados e incendiados. Ônibus foram queimados e estações de metrô vandalizadas. É a maior onda de protestos em décadas na capital chilena.
O incêndio, que levou à morte das três pessoas, ocorreu durante um saque ao supermercado Líder –controlado pela rede Walmart –ao sul de Santiago.
Os protestos se deram apesar do presidente chileno, Sebastian Piñera, ter anunciado, neste sábado (19), a suspensão do aumento de 30 pesos das tarifas do metrô de Santiago e o exército ordenado toque de recolher em três regiões do país–Santiago, Valparaíso e Conceição. Piñera já havia decretado estado de emergência horas antes.
A onda de protestos e violência, que começou na segunda-feira (14) em Santiago e se intensificou nos últimos dois dias, logo se alastrou pelo país e aos poucos ganha conotação de um movimento maior de contestação às políticas do governo Piñera.
O descontentamento da sociedade com o sistema previdenciário chileno, administrado por empresas privadas, o custo da saúde, o deficiente sistema público de educação e os baixos salários em relação ao custo de vida acabou emergindo junto com os protestos sobre o preço do metrô.
“Se não há destruição, ninguém nos ouve”, disse um morador de Santiago à TV às portas de uma concessionária de automóveis que foi queimada.
Alguns moradores de Santiago tomaram pacificamente as ruas para bater panelas durante a madrugada, enquanto fogueiras eram acesas nos bairros periféricos.
Exército nas ruas
Em Santiago, mais 1.500 soldados foram destacados nesta manhã – eles já somam quase 10 mil – principalmente para controlar pontos estratégicos como centrais de abastecimento de água, eletricidade e cada uma das 136 estações de metrô, que são alguns dos alvos mais visados pelos manifestantes.
Até sábado, 308 pessoas haviam sido detidas, 156 policiais ficaram feridos, 49 viaturas policiais foram depredadas e 16 ônibus foram danificados, sendo que cinco deles foram queimados.
Piñera reconheceu que há “boas razões” para protestar, mas pediu uma “manifestação pacífica” e observou que “ninguém tem o direito de agir com violência criminosa brutal” em relação aos danos ao metrô de Santiago, onde 78 estações foram danificadas.
O governo anunciou a suspensão das aulas nas escolas em Santiago nesta segunda-feira (21).
Preço da passagem acompanhou alta do dólar e petróleo
Desde segunda-feira passada, milhares de pessoas, especialmente estudantes do ensino médio e universitário, têm protestado contra o aumento de 30 pesos (17 centavos) no preço dos bilhetes de metrô de Santiago, decretado há duas semanas, de 800 pesos (R$ 4,63) para 830 pesos (R$ 4,80) no horário de pico.
Eles foram em massa para as estações de metrô e forçaram a entrada sem pagar, causando destruição e enfrentando a polícia. A situação forçou o metrô de Santiago, que transporta diariamente quase 3 milhões de pessoas, a fechar todas as estações na sexta-feira (18), o que produziu o colapso do sistema de transporte da cidade.
Ao mesmo tempo, grupos mais radicais assumiram a frente das manifestações, com confrontos diretos com os policiais e a queima e destruição de várias estações de metrô e imóveis.
Segundo Piñera, o aumento do preço das passagens refletiu a valorização do dólar e do petróleo, e havia sido aprovado por um quadro de especialistas do governo.
*Com agências internacionais