Economia
‘Efeito Amazônia’: Finlândia quer banir carne do Brasil na UE e acordo com Mercosul pode acabar
País pede ao bloco que considere suspender as importações de carne bovina devido à destruição da floresta brasileira; Irlanda e França dizem que não vão apoiar aliança comercial
A repercussão internacional das queimadas que atingem a Amazônia podem ter impactos que vão além dos ambientais: agronegócio e outros setores produtivos brasileiros podem ser afetados pela devastação da floresta e a reação do governo brasileiro às críticas do exterior.
Por um lado, o governo da Finlândia, que no momento detém a presidência rotativa da União Europeia (UE), declarou nesta sexta-feira (23) que vai propor aos países do bloco uma suspensão geral da importação de carne bovina brasileira por causa das queimadas que atingem a Amazônia.
“O ministro das Finanças, Mika Lintilä, condena a destruição das florestas na Amazônia e sugere que a UE e a Finlândia revisem com urgência a possibilidade de banir as importações de carne bovina brasileira”, afirmou, em comunicado, o Ministério das Finanças da Finlândia.
Em 2018, o Brasil exportou 118,3 mil toneladas de carne bovina para a União Europeia, que renderam US$ 728 milhões, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O país é o maior exportador de carne para o bloco europeu, que tem 28 países.
Nos últimos dias, vários países europeus vêm manifestando preocupação com os incêndios que atingem a Amazônia e com o aumento do desmatamento na região, que registrou uma alta de 278% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado.
O governo de Jair Bolsonaro vem reagindo mal às críticas dos europeus e passou a acusá-los de “interferência” e “colonialismo”. O presidente ainda contesta dados que apontam o aumento do desmatamento e chegou a sugerir que ONGs (Organizações Não Governamentais) estão por trás das queimadas.
Nesta quinta-feira (22), o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que a destruição da floresta amazônica seja tema da cúpula do G7 neste fim de semana. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, apoiaram a proposta. São membros do G7–EUA, Alemanha, Canadá, França Itália, Japão e Reino Unido–,as sete maiores economias de países desenvolvidos do planeta.
“Nossa casa está queimando. Literalmente. A Floresta Amazônica–os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta–está em chamas. É uma crise internacional. Membros da Cúpula do G7, vamos discutir em dois dias este tema emergencial”, diz Macron na postagem de quinta.
Nesta sexta-feira, Macron elevou o tom contra Bolsonaro e disse que e disse que o presidente brasileiro “mentiu” durante a reunião do G20 em Osaka, em junho, quando se comprometeu a preservar o meio ambiente e apoiar a permanência do Brasil no Acordo de Paris sobre o clima.
Acordo entre UE e Mercosul: comprometido
Por outro lado, a repercussão dos incêndios podem também acabar comprometendo o acordo de livre-comércio feito entre o Mercosul–Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai–e a UE no fim de junho. Macron afirmou nesta sexta (23) que, diante dessas circunstâncias, a França vai se opor ao acordo, que ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos países-membros do bloco.
Atitude similar foi adotada pela Irlanda, cujo governo também é pressionado por pecuaristas locais, que veem com desconfiança o acordo de livre-comércio com o Mercosul.
“Não há nenhuma chance de votarmos a favor se o Brasil não honrar seus compromissos ambientais”, escreveu o primeiro-ministro Leo Varadkar, em comunicado divulgado no fim da noite de quinta-feira (22).
*Com agências internacionais