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Vai aderir ao saque anual do FGTS? Pense duas vezes

Migrar para o novo modelo, o “Saque-Aniversário”, pode ser uma cilada para grande parte do trabalhador brasileiro

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O valor do saque anual varia de acordo com o saldo do fundo-Foto: Reprodução

A partir de outubro, o trabalhador brasileiro com saldo no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) tem de decidir se vai aderir à nova modalidade, o “Saque-Aniversário”, apresentada na última quarta-feira (24) pelo governo Bolsonaro, que permite saques anuais do fundo em troca de se abrir mão de resgatar todo o saldo em caso de demissão sem justa causa. Não confundir com os R$ 500 que cada trabalhador pode sacar de imediato-, que, por conta da logística, será liberado entre setembro de 2019 e março de 2020.

Esta decisão que a Caixa quer que o trabalhador tome é aquela referente aos saques a partir de abril de 2020 e que vão valer para sempre-é possível se arrepender e voltar ao regime anterior, o chamado de “Saque-Rescisão”, mas apenas passados dois anos.

A pergunta é: Vale a pena colocar a mão naquele dinheiro guardado com a Caixa e migrar para o “Saque-Aniversário”? A resposta é não, exceto em casos em que o trabalhador tenha feito o “dever financeiro de casa”, possua estabilidade no emprego ou que consiga uma recolocação rápida no mercado de trabalho e ainda que opte pelo investimento certeiro.

Em todos os outros casos, a adesão ao novo modelo pode ser uma cilada. Entenda por quê:

Dívidas

Você pergunta: mas se estou devendo no cheque especial e não consigo pagar a fatura integral do cartão de crédito, não vale a pena pegar o dinheiro, que o governo vai permitir retirar do fundo (veja tabela abaixo), e quitar essa dívida ou parte dela e me livrar dos juros de mais de 12% ao mês? A resposta é você que vai ter de dar.

Os valores dos saques anuais vão variar de acordo com uma percentagem de saque liberada pelo governo, de vai de 5% a 50%, mais um valor fixo, (a partir de R$ 500 de saldo). Um trabalhador com R$ 25 mil na sua conta, por exemplo, receberia 5% de R$ 25 mil, que é R$ 1.250 mais o valor fixo de R$ 2.900, totalizando R$ 4.150. Fonte: Ministério de Economia/Agência Brasil/Arte

Se você está a contar com o saque anual para sair do vermelho é por que considera que, todo o ano, vai precisar do dinheiro para quitar débitos caros. Ou seja, a sua decisão de migrar pode estar partindo dos motivos errados. A dica é: não faça essas dívidas. Até ao primeiro saque anual-que começa em abril e vai até dezembro- dá para fazer um planejamento financeiro. Organize seu orçamento doméstico, corte supérfluos, arrume uma segunda fonte de renda e separe parte do salário para não precisar do saque anual do fundo para diminuir a sua dívida ou para quitá-la de uma vez.

E lembre-se, se considerar que vai precisar dos recursos para quitar dívidas porque o seu orçamento vai demorar para fechar nos próximos anos, a opção de aderir pode complicar ainda mais a sua vida financeira. É que caso você perca o emprego e não consiga encontrar uma vaga no curtíssimo prazo ou obter dinheiro por meio de um negócio próprio, não vai mais poder mais dispor de todo o saldo, apenas do valor de 40% da multa rescisória, e talvez precise se endividar novamente para pagar serviços básicos, como água e luz, ou a conta do supermercado.

Veja também: Planilha dos Gastos Domésticos

Investimentos mais rentáveis?

E, não valerá a pena retirar o limite permitido do fundo, já que todo o mundo sabe que o FGTS é a aplicação com pior rendimento do país? A resposta para a maioria dos casos também é não.

O ganho do FGTS vai dobrar com a nova remuneração, anunciada também na quarta (24), que, agora, além dos 3% ao ano fixos mais a Taxa Referencial (que está próxima de zero), vai contar com 100% do lucro do fundo do ano anterior.

Pelas contas do Ministério de Economia, o FGTS, neste ano, já vai render 6,20% ao ano, acima do que está pagando a nova poupança, de 4,55%. A tendência é que a rentabilidade do fundo siga o ganho da poupança antiga, de 6,50% ao ano.

Assim, se a sua opção de migrar era para colocar o dinheiro na poupança, onde ele renderia mais, ela deixa de fazer sentido.

Apenas valeria a pena escolher o saque anual para aplicar em outros investimentos com maior potencial de rendimento que o FGTS, como Tesouro Direito (títulos do governo), fundos de renda fixa ou fundos multimercados, para um grupo de trabalhadores muito restrito: os que já tenham uma reserva financeira de emergência (para doenças e desemprego), as contas em dia, estabilidade no emprego e casa própria.

E, nestes casos, o trabalhador precisa avaliar a melhor aplicação financeira, sabendo que os fundos pagam Imposto de Renda (IR) e taxas de administração. As alíquotas do imposto são progressivas, quanto mais tempo deixar aplicados, menor será a taxa. Nos fundo de curto prazo, aplicados em até 180 dias, o IR é de 22,5%; entre 180 e 360 dias, de 20%. Nos de longo prazo, entre 361 e 720 dias, 17,5% e, acima de 720 dias, 15%.

Os fundos multimercados, aliás, têm outra característica que deve ser levada em conta. Podem dar ganhos mais altos, mas, como aplicam parte em ações ou índices de ações, também correm o risco de ter as rentabilidades reduzidas.

Resumindo: o FGTS, agora que sofreu uma melhora no seu rendimento, deve continuar a manter a sua destinação original para a grande maioria dos trabalhadores brasileiros: ser uma reserva de proteção ao trabalhador no caso de uma demissão imprevista e um recurso para a compra de patrimônio como a casa própria.

Por conta disso, grande parte deve ‘ignorar” a nova alternativa dada pelo governo e optar por não migrar para o “Saque-Aniversário”, para poder ter a possibilidade de resgatar todo o dinheiro de uma só vez.


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